segunda-feira, 1 de junho de 2009

C I C A T R I Z E S (...)


Meu corpo - Meu templo - Meu santuário

Como é se equilibrar nas estacas do trauma e seguir caminho após sofrer algum tipo de violência sexual?

Vou começar com uma abordagem superficial sobre as possíveis reações de crianças que sofrem algum tipo de violência sexual e em um segundo momento trarei a tona o estupro como violência sexual contra a mulher:


Primeira Situação:


A criança é uma menina de seis anos. O seu tio, irmão de seu pai, a molesta. A criança não consegue reagir, fica paralisada.


O tio faz algumas das seguintes ameaças:

§ “Se você contar pra alguém eu o mato seu/sua pai/mãe e nunca mais a/o verá”;

§ “Se você contar eu a mato”;

§ “Se você contar eu te bato”.


A Criança Se Cala! Por Quê?


Ela não tem noção lógica do que o agressor realmente seria capaz de fazer. Simplesmente acredita que ele realmente seria capaz de privá-la das únicas pessoas que de fato poderiam protegê-la e amá-la.

À medida que o tempo passa e a criança amadurece nota que é possível parar o agressor e que de forma alguma ele teria coragem de matar seus pais. Coloca um fim na situação sozinha, sem que ninguém saiba de tudo o que aconteceu. A vergonha, a dor, o nojo de si e outros sentimentos de repugna fazem com que o silêncio seja sua religião. A agressão cessa, mas a dor é permanente.

O medo de falar gira em torno da vergonha e da possibilidade de ocasionar uma tragédia familiar. Sem contar que na maioria dos casos a maioria dos familiares não acredita no que a criança conta.

Daí origina-se traumas psicológicos e mudanças comportamentais que podem ser observados pelos pais: agressividade, irritabilidade, alterações no sono, dificuldade de concentração e conseqüente baixo rendimento escolar, voltam a fazer xixi na cama, medo irracional de algumas situações ou pessoas, dificuldade no relacionamento com outras crianças ou adolescentes, silêncio, quietude fora do normal (quando disserem: “Nossa como ela é quieta e calada. Você deve ser muito brava!” desconfie!) e etc.

Quando um adulto sofre algum tipo de violência (tratarei desse assunto logo à frente) sente uma vergonha incomum. Uma resistência quanto a falar do assunto, buscar ajuda – expor-se.

Imagine a situação da criança que sofre abuso de um membro da família que deveria protegê-la?

Não critique ninguém pelo silêncio! Somente quem sofreu algo assim sabe da dor! Se puder ajude e busque ajuda!

Casos assim podem estar acontecendo nesse momento em sua família ou com o filho (a) do vizinho.

Segundo o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), a violência sexual é considerada crime, conforme artigo 244-A, incluindo a exploração sexual e a prostituição infantil com pena de reclusão de 4 a 10 anos e multa.

Como Ajudar?

§ Busque para a criança e para a família apoio psicológico e psiquiátrico.

§ Em determinadas ocasiões é necessário auxilio médico-hospitalar.

§ Transmita confiança à criança.

§ E por fim:

DENUNCIE!

Segunda Situação:


Na volta da faculdade a jovem é abordada por dois homens armados. Ela é estuprada cruelmente pelos agressores (“Abra as pernas sua vagabunda, é só uma trepadinha. Vai dizer que não gosta?”) e abandonada em um local ermo (Diálogo entre os agressores: - “E então, o crime é hediondo. Tem certeza de que ela não se lembra do nosso rosto? Se ela lembrar a gente vai ter que apagar essa desgraçada” – “Deixa ela aí, provavelmente vai morrer sozinha mesmo.”). Percorre alguns quilômetros com hemorragia a fim de conseguir ajuda. Encontra um povoado rural, bate nas portas diz aos prantos o que aconteceu e ninguém abre a porta. Suas forças são baseadas no instinto de sobrevivência, apenas! Encontra um telefone público: “Mãe, sofri um assalto. Chame a polícia e venha me buscar!” A mãe chega e quando vê tanto sangue tem uma horrível crise de vômito.

Viatura da Polícia – Pronto Socorro – Delegacia – IML – Ambulatório de Apoio à Mulher que Sofre Violência Sexual

Cada mulher pode reagir de uma forma diferente ao sobreviver a um estupro.

- “Por Que Eu Sobrevivi?” A mistura dos sentimentos de dor da culpa, asco e desilusão com a vida levam a mulher a um quadro de depressão pós-traumática. Se não for tratada corretamente a depressão pode levá-la até mesmo ao suicídio.

Distúrbios Sexuais!Outras passam a se sujeitarem a situações sexuais desonrosas por desenvolverem distúrbios sexuais após o trauma.

As reações variam, podendo ser fatal caso a mulher não seja assistida por profissionais capacitados, principalmente se a violência gerar uma gravidez ou doença sexualmente transmissível.

A vítima Se Transforma Em Vilã! É isso o que a sociedade hipócrita e preconceituosa faz de modo geral – transformar a vítima em vilã. “Quem a mandou usar vestidos tão provocantes? Estava mesmo pedindo que isso acontecesse!”; “Não sente onde ela sentou, pode ser que tenha pegado alguma doença!”; “Ela deve é estar feliz, pelo menos alguém quis pegar!”. Até parece que ninguém faria comentários assim. Mas acreditem, os comentários são os piores possíveis. A mulher que já está destruída psicologicamente, fisicamente e emocionalmente se sente ainda pior. Fora as mulheres que são demitidas após sofrerem a violência.

Falta instrução para a população de um modo geral sobre como agir quando alguém de sua convivência passa por tal trauma. Principalmente em pequenas cidades ou comunidades do interior dos Estados a imagem que fazem da vítima é totalmente distorcida. Muitas mulheres não registram ocorrência, de modo que os agressores ficam livres para destruírem a vida de mais pessoas.

Certamente, é revoltante quando a mulher se expõe e simplesmente nada é feito pelas autoridades competentes.

Alguém já imaginou o esforço que é para uma mulher ter que visitar um ambulatório de apoio à mulher que foi violentada periodicamente durante quase dois anos, fazendo exames, conversando com psicólogo – tentando se convencer de que foi bom ter sobrevivido?

Não estou falando sobre sentimentalismo fútil e sim de sobrevivência. De algo que provoca na grande maioria, em primeiro momento uma cara normal de quem ficou sabendo de algo corriqueiro e em segundo momento um pensamento de alivio por não ter sido com a própria família. Ao final das contas, isso sempre pode acontecer com a família da casa ao lado e não com a nossa.

Pois digo em toda a verdade: Se puder ajudar, ajude ativamente. Caso contrário tenha o mínimo de respeito e evite até mesmo pensamentos maldosos.

Como Ajudar?

§ Conscientize a mulher agredida da necessidade de registrar ocorrência.

§ Procure programas de apoio direcionados a pessoas que sofrem esse tipo de violência. São oferecidos médicos, exames, medicação e apoio para a família.

§ Repreenda pessoas preconceituosas que façam comentários maldosos.

§ Dê carinho e compreenda que ninguém pode julgar a dor que a mulher está sentindo.

§ Nunca sinta dó! Agir normalmente é a melhor forma de ajudá-la a ter força e garra para reconstruir a vida.

Então, quem se habilita a responder à pergunta que fiz no inicio de minha explanação:


Como É Se Equilibrar Nas Estacas Do Trauma E Seguir Caminho Após Sofrer Algum Tipo De Violência Sexual?


(A resposta a essa pergunta e muito mais será publicado na próxima semana!)


Mais Informações: Brasil Contra a Pedofilia, DIHITT, ABC da Saúde, PCO.org, Blog da Lola, Jornal Dia a Dia


6 comentários:

  1. É difícil comentar alguma coisa. Só posso dizer que sinto um grande orgulho de você e penso que é muito importante que as pessoas que já passaram por isso tentem passar por cima da dor, da raiva, da vergonha e sejam capazes de mostrar ao mundo que o assédio ou abuso sexual e psicológico às crianças é muito mais comum do que elas imaginam e que é preciso estar atenta aos sinais que a criança dá, pois normalmente o animal que se propõe ter uma criança como vítima (sim, animal, porque eu não considero isso um ser humano) faz uso daquilo que a criança tem de mais belo e de mais natural: a ingenuidade, a confiança cega no adulto e o amor pela sua família. Esses sentimentos tão naturais nos crianças são explorados, retorcidos e utilizados para mantê-la em silêncio. Nesta sociedade tão individualista que vivemos é muito importante que aprendamos que a educação e cuidado da criança não é apenas tarefa dos pais, a sociedade como um todo tem o dever de cuidar das suas crianças, pois elas são a base para construir o mundo de amanhã. Muitas culturas indígenas encaravam o cuidado da criança como uma tarefa comum a toda a sociedade; na Grécia antiga a educação dos jóvens era vista como uma responsabilidade de toda a sociedade, principalmente dos mais velhos; etc.; a sociedade occidental moderna precisa aprender que a proteção e educação de crianças e adolescentes é tarefa de todos, somos todos responsáveis.

    ResponderExcluir
  2. O problema é que a forma como a sociedade vê e trata as crianças vem melhorando aos poucos, assim como escrevi na seguinte publicação: http://aislaaraujo.blogspot.com/2009/05/onde-esconderam-infancia.html
    O histórico de crueldade contra a criança é vasto.

    ResponderExcluir
  3. Como já foi dito anteriormente, é muito complicado se comentar algo que não se viveu. Mas conheço uma pessoa que passou por isso e pude estar ao lado dela tentando ao menos auxiliar na parte que cabe as pessoas que estão ao redor das mulheres que sofrem essa violência que é uma barbárie. Para as pessoas que estão ao redor cabem dar apoio, carinho, um ombro pra chorar e conversar sempre. O diálogo é o melhor remédio e mostrar para essa pessoa que independente do que ela passou o seu amor por ela continua o mesmo. Sem preconceitos, sem caras e bocas de nojo ou de desprezo. Pois isso só acarretará mais dano no emocional e psicológio. Eu estive ao lado e sei o quanto é sensível. Pois por mais que se supere não se esquece.

    ResponderExcluir
  4. Oi, Aisla...
    Lendo o comentário da Angélica tive impressão de que vc já passou por algo desse tipo. Se sim, fico muito impressionada pela forma como vc lida com isso em seu discurso. Claro que para muitas pessoas é um trauma muito grande, e que cada pessoa reage a isso de uma forma, mas que bom que algumas pessoas transformam situações ruins em suas vidas em campanhas tão positivas, que possivelmente vão ajudar ou ao menos esclarecer outras tantas.
    Particularmente, tenho um verdadeiro horror a violência sexual. Tenho mais medo disso que de morrer. Espero que as políticas públicas tornem-se mais atennciosas e eficientes em relação a isso, e acredito que o caminho para tal passe por pessoas como você.

    (Obs.: Sim, de fato a literatura prevê exatamente o que você disse para o comportamento de bote de cascavéis, entretanto parece que elas não têm lido protocolos! Tenho um pezinho no setor de herpetologia, e já ouvi MUITOS relatos como o seu, e já vi uma cascavel 'correr' atrás de uma colega, inclusive, pasme, saltando um degrau de escada para pegá-la. Estou esperando seu comentário sobre isso aqui no seu blog, virei ler. =* )

    ResponderExcluir
  5. violência sexual:
    http://egoscompostosanfipaticos.wordpress.com/2008/07/06/violencia-sexual/

    ResponderExcluir
  6. Moça do blog egoscompostosanfipaticos, realmente as cascavéis anda fugindo do normal...rs
    Bom, você deve ter notado que publiquei a continuação.
    Bom, obrigada pelo comentário, é bom saber que esse tema interessa a outras mulheres, porque por incrível que pareça a maioria trata do assunto com vugaridade até o momento em que são vítimas e compreendem o impácto que isso pode ter.
    Quanto as políticas, ainda são hipócritas, infelizmente. Muito é feito, mas não o bastante. Como tudo no Brasil, que diz respeito a questões sociais e de saúde, a coisa só melhora de verdade com mundança cultural, ou seja, a educação ainda é muito machista... bla bla bla
    Se deixar nao paro...
    Mas depois até vou abordar essas questões...

    Pelo que vi em seu blog vc trata de assuntos interessantes... tenho visitado sempre...

    Aguardo sua resposta em um comentário na última publicação.

    ResponderExcluir