sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Política não é coisa de Mulher...

Aristóteles define a política como a ciência que busca a felicidade humana. Ele a divide em duas partes: a ética, que busca a felicidade individual e a política, propriamente dita, que busca o bem coletivo. Ao pesquisar formas de governo chegou ao termo democracia, que lindamente confere poder ao povo, sendo assim o "governo do povo".
Afirma ainda que as mulheres, não gozando de plenitude racional, são seres inferiores e devem continuar submissas.
Sófocles, dramaturgo grego, menciona ainda que a mulher “por sua graça natural” deveria “permanecer em silêncio”.
Mesmo hoje, em Estados democráticos e regidos por direitos humanos (como por exemplo: igualdade, dignidade...) as mulheres são submetidas à discriminação, violência, desrespeito...
A instituição familiar, que deveria dar segurança, é o berço dos abusos sexuais e da desigualdade.
Muitos leitores estão pensando: “Existe a Lei Maria da Penha (11.340/2006)...”.
Sim, concordo com vocês! Contudo, a aplicação de tal lei é dificultada pela falta de estrutura policial, social, jurídica e por um projeto de lei que tramita no Congresso Nacional propondo o retorno da mesma situação que existia antes da Lei.
Segundo Marco Aurélio Nogueira, em sua publicação Em defesa da Política, Política é o principal instrumento para pensar o social como espaço organizado (instituído, articulado por conflitos, antagonismos e hegemonias).
Em toda essa vivência e atuação cabe aos grupos excluídos, como as mulheres, pensar a realidade de modo crítico a fim de sair da situação de desigualdade.
Em nossa sociedade, desde a tenra idade somos condicionados a considerar a mulher apta à maternidade, por exemplo, e inapta à política. A maioria dos grupos sociais é avessa a iniciativas de justos ordenamentos relativos a liberdades sexuais e reprodutivas, assim, enraizando padrões tradicionalistas e criando “currais” de orientação sobre concepções familiares restritas à heterossexualidade monogâmica, inserida em um contexto desigual de favorecimento patriarcal e massacre da mulher – sua identidade, individualidade, sexualidade... -.
Alguns poucos grupos trabalham pela pluralidade e diversidade sexual como regra de convivência.
A história da luta das mulheres trás fatos importantes como o reconhecimento dos direitos civis das mulheres e de filhas e filhos nascidos de relações fora do casamento, aprovação do divórcio (que tramitou por quatro anos no Congresso Nacional), a atual batalha pelo direito de interrupção da gravidez indesejada, antecipação terapêutica do parto em caso de gravidez de fetos anencefálicos, o reconhecimento do assédio sexual como uma violência contra as mulheres e o grande esforço de mobilização contra a misoginia e lesbofobia.
Muitas das reivindicações citadas no parágrafo acima estão em curso e seu êxito depende de organização/mobilização coletiva bem como articulação política.
Mesmo com a mulher inserida no cenário político nacional, os ditos e piadas sobre o “lugar” da mulher na sociedade, a violência domestica e as decisões judiciais que legitimam essa violência demonstram que as posições retrógradas são hegemônicas.
Se não existem forças sociais diversas focadas em pressionar e mobilizar a sociedade, várias leis serão desconsideradas, não somente em um papel, mas na vida real.
Existe o exemplo da história da escravidão no Brasil. Nosso país foi um dos últimos no Ocidente a abolir formalmente a escravidão declarando igualdade, independente de etnia, mediante o Estado. Mesmo assim, ainda hoje convivemos com práticas racistas todo o tempo. Lembrando que a criminalização do racismo (LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989.) tão pouco reprime, de fato atos racistas, envolvendo violência física, emocional, desfavorecimentos, etc.
Mulheres que têm e buscam consciência político-social devem assumir a responsabilidade de transmitir para as outras a necessidade de unirem-se e participarem ativamente de movimentos que buscam alcançar os direitos das mulheres dentro da política e da sociedade.

Chico Buarque de Holanda, que é cantor e compositor brasileiro, faz crítica às condições de inferioridades das mulheres de Atenas em comparação com a misoginia e discriminação que a mulher sofre, tanto na época da composição quanto hoje.

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